Tarifas em Alta: O Pior Já Passou ou Ainda Está por Vir?

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  • 04, Aug, 2025

Apesar do aumento das tarifas comerciais nos Estados Unidos em 2025, os mercados acionários globais permanecem próximos de máximas históricas. A aparente resiliência das bolsas levanta uma pergunta essencial: por que os investidores parecem estar ignorando os riscos das tarifas e até quando isso pode durar?


 

Segundo Michelle Gibley, diretora de pesquisa internacional da Charles Schwab, ainda que o impacto direto das tarifas seja limitado no curto prazo, há sinais de que seus efeitos econômicos mais amplos ainda podem estar por vir. Em artigo publicado pela Schwab, Gibley analisa os principais vetores por trás do comportamento atual dos mercados, apontando fatores econômicos, geopolíticos e técnicos que moldam a trajetória dos investimentos globais.

 


Exportações para os EUA têm peso limitado no PIB global

Embora os Estados Unidos sejam a maior economia do mundo, a maioria dos países exporta uma parcela relativamente pequena de seu PIB para o mercado americano. Em 2024, por exemplo, as exportações da China para os EUA representaram apenas 2,3% do PIB chinês. Apenas sete países têm exposição superior a 10% de seus PIBs em exportações para os EUA, o que ajuda a explicar a limitada reação inicial dos mercados ao aumento das tarifas.

A exposição à exportação varia entre os países

Bar chart shows goods exports to the U.S. as a percentage of GDP for 20 countries including Vietnam, Mexico, Switzerland, Germany, the European Union, Brazil and the U.K.

Fonte: Charles Schwab, Bloomberg, U.S. Bureau of Economic Analysis, IMF World Economic Outlook (abril de 2025), dados recuperados em 17/07/2025.

 

O país mais exposto é o Vietnã, que tem adotado uma estratégia cautelosa diante das tarifas de 20% anunciadas pelos EUA sobre seus produtos. Ainda assim, fabricar no Vietnã continua competitivo em relação ao retorno de fábricas ao solo americano. Para mitigar riscos, produtos chineses que passam por etapas de manufatura adicionais no Vietnã podem evitar tarifas mais altas de 40%. Mesmo com esse cenário desafiador, a expectativa é de que o país desacelere, mas não entre em recessão.

 


Efeitos econômicos se concentram no curto prazo — com perspectiva de recuperação

México e Canadá, parceiros comerciais relevantes dos EUA, também enfrentam pressões. Ambos os países sofreram com tarifas implementadas em março, antes mesmo do chamado “Dia da Libertação” — como foi nomeado pelo ex-presidente Donald Trump, em 2 de abril. A expectativa do consenso da Bloomberg, citada por Gibley, é de contração no segundo trimestre, mas com melhora da atividade econômica nos trimestres seguintes.

Segundo dados reunidos pela Charles Schwab, o crescimento global deve desacelerar em 2025 e retomar fôlego em 2026, conforme a incerteza comercial diminui e empresas retomam decisões de investimento e contratação.

A economia foi atingida agora, enquanto o crescimento futuro pode melhorar

Bar chart shows real and expected growth in Canada, Mexico, Germany and the global rate in 2024, 2025 and 2026.

Fonte: Charles Schwab, dados da Bloomberg, em 30/06/2025.

 


Até agora, inflação e lucros corporativos pouco afetados

Mesmo com a tarifa média efetiva dos EUA tendo subido para 8,8% em maio, segundo a Comissão de Comércio Internacional dos EUA, os impactos sobre inflação, crescimento global e lucros corporativos ainda são modestos.

Entre os fatores de mitigação, destacam-se:

  • Compras antecipadas para formar estoques a custos menores;

  • Empresas absorvendo parte dos aumentos de custos para evitar múltiplos repasses de preços;

  • Consumidores antecipando compras por receio de inflação futura.

Ainda assim, alerta Gibley, o efeito inflacionário pode estar apenas começando. Como as tarifas recaem sobre os importadores (empresas americanas), estas terão que optar entre reduzir suas margens ou repassar os custos aos consumidores — o que pode elevar os preços nos próximos meses.

 


Impacto global e possíveis retaliações

Fora dos EUA, algumas empresas estão compensando os custos adicionais elevando os preços em outros mercados. Fabricantes japoneses, por exemplo, baixaram os preços globais de automóveis. No entanto, a maior parte do custo tarifário tem sido absorvida dentro dos EUA, como mostra o aumento de 131% na arrecadação aduaneira até 24 de julho, em comparação com o mesmo período de 2024, segundo dados da Alfândega dos EUA.

Caso outros países comecem a retaliar com suas próprias tarifas, é provável que o impacto acabe recaindo principalmente sobre os EUA, de acordo com a análise da Charles Schwab.

 


Tarifas seguem subindo — e seus efeitos ainda não foram totalmente sentidos

Desde 2 de abril, as tarifas norte-americanas passaram por diversas fases de implementação e adiamentos, mas a tendência ainda é de alta. A expectativa, segundo projeções do Yale Budget Lab e da Evercore ISI, é que a tarifa média nos EUA possa atingir níveis não vistos desde a década de 1930.

O efeito total das tarifas ainda está por vir

The average total import tariff rate in the United States has risen sharply since April 2nd, 2025. Based on proposed tariffs the rate could go much higher, above levels last seen in the 1930s.

Fonte: Charles Schwab, Comissão de Comércio Internacional dos EUA, Evercore ISI, Yale Budget Lab, recuperado em 28/07/2025. Tarifas até 30/05/2025 da USITC, estimativa até 27/07/2025 da Evercore ISI e estimativa do "Dia da Libertação" do Yale Budget Lab.

 

Essa trajetória cria incerteza para empresas e consumidores. Ainda que alguns prazos tenham sido prorrogados, como as tarifas recíprocas contra a China agora previstas para 12 de agosto, o impacto total dessas medidas está longe de ser precificado totalmente pelo mercado.

 


Movimentos de diversificação comercial entre países

Diversos países estão aproveitando o momento para ampliar o comércio entre si e reduzir a dependência dos EUA. Segundo a Charles Schwab:

  • Reino Unido e Índia firmaram um acordo de livre comércio em maio;

  • México e Brasil trabalham no aprofundamento de acordos comerciais;

  • A China assinou pactos com Vietnã, Malásia e 53 países africanos, e busca reforçar seu acordo com a ASEAN;

  • A União Europeia negocia novos tratados com Índia, Indonésia, África do Sul e outros parceiros da Ásia.

Esses acordos visam redirecionar exportações originalmente destinadas aos EUA para novos mercados. No entanto, como ressalta Gibley, nenhum desses mercados, isoladamente, tem o tamanho para substituir o peso dos Estados Unidos no comércio global.

 


O que os investidores devem observar?

Na visão da Charles Schwab, a reação moderada dos mercados até o momento não significa que os riscos desapareceram — apenas que os efeitos econômicos das tarifas ainda estão em fase de defasagem.

Os preços nos EUA tendem a subir, enquanto preços em outros países podem cair, caso não haja escalada protecionista. Ainda assim, a perspectiva de uma recessão global é baixa. Para os investidores, a chave está em manter o foco no longo prazo e observar os desdobramentos de 2026, quando as incertezas comerciais podem dar lugar à recuperação do crescimento.

 


Disclaimer

Esta análise foi produzida originalmente por Michelle Gibley, em uma pesquisa publicada pela Charles Schwab. A Bankshop LLC não é autora do conteúdo e não se responsabiliza pelas opiniões, projeções ou informações expressas no artigo. Os créditos são inteiramente do analista e da fonte original. Você pode acessar a publicação completa diretamente no site da Charles Schwab Asset Management, clicando aqui.

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Luiza Amaral
Luiza Amaral