Nova análise da Charles Schwab aponta que o cenário continua frio e nublado.
O primeiro semestre de 2025 confirmou um cenário que já parecia claro no início do ano: a volatilidade continua sendo uma constante no mercado de renda fixa. E, segundo análise recente de Kathy Jones, estrategista-chefe de renda fixa da Charles Schwab, essa tendência deve persistir na segunda metade do ano.
A combinação de incertezas envolvendo política fiscal, comércio internacional, inflação e trajetória dos juros tem mantido os investidores em alerta. “O cenário permanece frio e nublado”, define Kathy Jones em seu relatório mais recente sobre o mercado de bonds.
O principal termômetro da volatilidade no mercado de títulos do Tesouro americano, o índice MOVE, disparou em abril, refletindo a reação dos investidores às rápidas mudanças nas políticas econômicas e comerciais dos EUA. No início de junho, o índice estava em 96 pontos, patamar considerado elevado.
O índice MOVE disparou em abril
Fonte: Bloomberg, dados diários de 31/12/2024 a 03/06/2025.
Essa volatilidade tem sido acompanhada de um movimento expressivo nos rendimentos dos Treasuries. Os títulos de 30 anos ultrapassaram 5%, o maior nível desde 2007, refletindo preocupações com o aumento dos gastos do governo, expansão do déficit e crescimento da dívida pública.
Segundo a Charles Schwab, essa não é uma questão isolada dos EUA. A tendência de alta nos rendimentos de longo prazo é global. “Após duas décadas de déficits em um ambiente de juros e inflação baixos, os investidores agora exigem rendimentos mais altos para financiar governos”, destaca Jones.
Os rendimentos dos títulos do Tesouro de longo prazo aumentaram
Fonte: Bloomberg
Com esse cenário, a expectativa para o segundo semestre de 2025 é de uma curva de juros mais inclinada — ou seja, o diferencial entre os juros de longo e curto prazo tende a se ampliar. Isso reflete um mercado que exige prêmios maiores para carregar dívida de longo prazo em tempos de elevada incerteza.
Apesar desse movimento, a Charles Schwab acredita que há espaço para uma leve queda nos rendimentos no fim do ano, caso o crescimento econômico desacelere e as pressões inflacionárias diminuam. A expectativa é que o Federal Reserve (Fed) promova um ou dois cortes de juros em 2025, começando, no melhor cenário, a partir de setembro.
Embora o crescimento econômico tenha se mantido robusto no primeiro semestre, sustentado por consumo e mercado de trabalho fortes, há sinais claros de desaceleração. Pesquisas com consumidores apontam para um sentimento generalizado de pessimismo, com medo de que o aumento das tarifas e cortes nos gastos públicos levem a uma estagflação — combinação de baixo crescimento com inflação alta.
O ambiente comercial também gera incertezas. Desde o anúncio de novas tarifas em abril pela administração Trump, empresas vêm freando investimentos e contratações. A indecisão sobre o rumo dessas tarifas, que podem variar entre 7% e até 17,8% segundo estimativas do Yale Budget Lab, adiciona mais um grau de risco à economia.
O próprio Federal Reserve, em seu relatório Beige Book, publicado antes da reunião de maio, alertou que a incerteza sobre a política comercial está pesando na atividade econômica.
Os planos de gastos de capital empresarial enfraqueceram
Fonte: Bloomberg, dados mensais de 30/05/2015 a 30/05/2025.
O aumento das tarifas e a deterioração do quadro fiscal também estão impactando o papel tradicional dos títulos americanos como instrumentos de diversificação em tempos de crise. Historicamente, quando as ações caem, os bonds sobem — mas isso não aconteceu após os choques de abril, quando tanto as ações quanto os Treasuries sofreram.
O dólar também reagiu de forma incomum. Em vez de se valorizar, como geralmente ocorre com a adoção de tarifas, a moeda americana caiu cerca de 7% desde o início da guerra comercial, refletindo o enfraquecimento das expectativas de crescimento econômico.
O rendimento dos títulos do Tesouro a 10 anos subiu enquanto as ações caíram em abril
Fonte: Bloomberg, dados diários de 02/06/2024 a 02/06/2025.
A questão fiscal dos EUA ganhou ainda mais relevância. O Congresso discute um projeto que pode elevar o déficit em US$ 3 a 4 trilhões nos próximos 10 anos, levando a relação dívida/PIB a níveis recordes.
Historicamente, não havia uma correlação direta entre dívida pública e rendimentos dos bonds, graças à confiança global no dólar e na capacidade de pagamento dos EUA. No entanto, o cenário mudou. Com a necessidade crescente de emissão de Treasuries, surge uma pressão estrutural de alta nos rendimentos de longo prazo.
Não houve muita correlação entre os níveis de dívida e os rendimentos dos títulos
Fonte: Bloomberg, dados trimestrais de 30/04/1980 a 30/04/2025.
Um dos principais motores da recente alta nos rendimentos é o term premium — o prêmio exigido pelos investidores para carregar títulos de longo prazo. Desde abril, esse prêmio disparou, alcançando 0,75%, o nível mais alto em mais de uma década.
“O term premium reflete, principalmente, a incerteza sobre a trajetória da política econômica e fiscal”, explica Kathy Jones. Na prática, isso significa que os investidores estão demandando um retorno extra para se proteger dos riscos futuros.
O prémio do prazo de 10 anos aumentou
Fonte: Bloomberg, dados diários de 29/05/2010 a 29/05/2025.
O mercado espera que o Federal Reserve corte os juros uma ou duas vezes até o fim de 2025, levando a taxa para algo em torno de 4%. Contudo, a inflação persiste como obstáculo. Mesmo com o desemprego estável, a inflação segue entre 2,5% e 3%, acima da meta do Fed de 2%.
Além disso, as expectativas de inflação de curto prazo subiram, segundo os CPI swaps, que hoje indicam uma inflação de 3,3%, patamar considerado elevado para justificar cortes agressivos nos juros.
As expectativas do mercado para a taxa dos fundos federais de fim de ano aumentaram
Fonte: Bloomberg, dados diários de 06/02/2025 a 02/06/2025.
A taxa de swap de inflação vem subindo e está acima de 3%
Fonte: Bloomberg, dados diários de 02/06/2020 a 02/06/2025.
Apesar dos desafios, o mercado de renda fixa ainda oferece oportunidades. Segundo a Charles Schwab, grande parte do retorno em 2025 tem vindo dos cupons pagos pelos títulos, e não da valorização dos preços.
Os rendimentos hoje são atraentes:
Para investidores de longo prazo, essas taxas podem gerar retornos reais positivos no horizonte de médio prazo, mesmo em um ambiente de juros elevados.
A recomendação da equipe da Charles Schwab, liderada por Kathy Jones, é clara:
Rendimentos médios para uma variedade de investimentos de renda fixa
Fonte: Bloomberg, em 30/05/2025.
O panorama segue “frio e nublado”, nas palavras de Kathy Jones, com incertezas fiscais, comerciais e monetárias dominando o cenário. Contudo, para quem souber se posicionar, os atuais níveis de rendimento oferecem uma rara oportunidade de construir carteiras de renda fixa mais robustas, com retornos interessantes e proteção contra a volatilidade.
Disclaimer
Esta análise foi produzida originalmente por Kathy Jones, em uma pesquisa publicada pela Charles Schwab. A Bankshop LLC não é autora do conteúdo e não se responsabiliza pelas opiniões, projeções ou informações expressas no artigo. Os créditos são inteiramente do analista e da fonte original. Você pode acessar a publicação completa diretamente no site da Charles Schwab Asset Management, clicando aqui.
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