Análise dos dados de emprego e as implicações para a política monetária nos Estados Unidos
No episódio 203 do podcast da Interactive Brokers, os economistas Steve Sosnick e Jose Torres analisaram os recentes dados de emprego nos Estados Unidos, destacando discrepâncias entre as fontes de dados e explorando as implicações para a política monetária do Federal Reserve. A conversa aborda as inconsistências nos relatórios do Bureau of Labor Statistics (BLS) e da ADP, os desafios enfrentados no mercado de trabalho e o impacto das políticas do Fed em um cenário econômico dinâmico.
Os últimos dados de emprego dos EUA geraram confusão. O BLS reportou um crescimento de apenas 12 mil empregos, enquanto a ADP indicou um aumento de 233 mil posições. Torres explica que essa diferença pode estar ligada a fatores como os efeitos de furacões e greves, que distorcem os dados coletados. Ele enfatiza que, quando os números de crescimento de empregos caem abaixo de 70 mil, o temor de uma recessão aumenta. No entanto, ele sugere prudência ao interpretar esses dados pontuais, preferindo aguardar os próximos relatórios para uma visão mais clara.
Torres também expressa uma preferência crescente pelos dados da ADP, que se baseiam em informações diretas de folhas de pagamento, o que, segundo ele, pode fornecer uma imagem mais precisa da economia. Já o BLS, dependente de respostas voluntárias, enfrenta o desafio de obter dados representativos, especialmente em tempos de turbulência econômica.
Apesar da desaceleração em alguns setores, o mercado de trabalho dos EUA permanece resiliente. Os salários aumentaram 0,4% no último mês, um indicador de que a inflação ainda exerce pressão sobre os rendimentos. Torres menciona que, atualmente, as empresas tendem a reduzir novas contratações, mas evitam demissões em massa, devido à incerteza econômica e ao desejo de manter força de trabalho qualificada em caso de uma retomada.
A conversa também se aprofunda nas ações do Federal Reserve, que mantém uma postura de acomodação econômica devido à experiência recente com taxas reais negativas. Torres argumenta que o Fed talvez esteja subestimando a resiliência da economia, apontando que os spreads de crédito e as condições financeiras sugerem uma taxa de juros mais próxima da neutralidade do que da restrição. Essa análise sugere que o Fed pode estar hesitando em ajustar as taxas devido ao histórico recente e à perspectiva de endividamento da economia americana.
As próximas eleições também desempenham um papel importante nas expectativas de mercado. Com a possível vitória de qualquer um dos partidos, Torres sugere que a política fiscal deverá influenciar o mercado de trabalho e as taxas de juros. Políticas como redução de impostos e desregulamentação podem impulsionar o crescimento a curto prazo, enquanto uma abordagem mais regulatória e de aumento de impostos poderia impactar empresas e consumidores.
Para Torres e Sosnick, o mercado de trabalho dos EUA está em um estado de “desinflação”, uma desaceleração sem sinais de enfraquecimento profundo. Eles acreditam que o Fed deve adotar uma postura cautelosa, considerando tanto a resiliência do mercado de trabalho quanto a influência das políticas fiscais e econômicas.
Diretor Bankshop