Com dados ainda benignos, mas riscos crescentes no radar, especialistas da Charles Schwab alertam para o perigo da complacência em relação à inflação no segundo semestre de 2025.
Apesar de um primeiro semestre aparentemente tranquilo no que diz respeito à inflação, o segundo semestre de 2025 pode não ser tão benigno. Essa é a principal mensagem da análise assinada por Liz Ann Sonders, Managing Director e Chief Investment Strategist, e Kevin Gordon, Director e Senior Investment Strategist da Charles Schwab, divulgada no fim de maio.
A inflação nos EUA vem demonstrando uma trajetória estável ao longo do ano, com o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) — tanto na leitura cheia quanto no núcleo (que exclui alimentos e energia) — apresentando números controlados em maio. Segundo os dados da Charles Schwab, baseados em números do Bureau of Labor Statistics (BLS), os preços dos bens do núcleo ficaram inalterados em relação a abril, sugerindo estabilidade nos impactos tarifários e pressão de baixa advinda de setores como habitação e salários.
Fonte: Charles Schwab, Bloomberg, Bureau of Labor Statistics (BLS), em 31/05/2025.
No entanto, os autores alertam: essa calmaria pode ser passageira.
A análise cunha o termo “complation” — uma mistura de complacency (complacência) com inflation (inflação) — para ilustrar a aparente despreocupação do mercado com os riscos inflacionários à frente. O alerta se intensifica diante do aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio, especialmente no Irã, e da persistência de tarifas comerciais.
O que está por trás da preocupação? Vários indicadores fora do CPI apontam para um possível aumento de preços. Os índices de gerentes de compras (PMIs) do Institute for Supply Management (ISM) e da S&P Global mostram que os preços de produção voltaram a patamares semelhantes ao início da pandemia. Paralelamente, uma pesquisa da NFIB (Federação Nacional de Negócios Independentes) revela que mais empresas pequenas estão elevando preços — ou pretendem fazê-lo.
Além disso, grandes corporações como Walmart, Macy’s, Procter & Gamble, Ford, Subaru, Microsoft, Nintendo e outras já anunciaram aumentos de preços.
Outro ponto relevante levantado por Sonders e Gordon diz respeito à diferença entre a inflação de bens e serviços considerados "necessários" e aqueles vistos como "discricionários". Utilizando dados da Piper Sandler & Co., a Charles Schwab mostra que os preços de categorias não discricionárias — como aluguel, cuidados médicos, creches e serviços de internet — estão subindo ao dobro da velocidade dos bens considerados de desejo.
O impacto é maior sobre os consumidores de menor renda, que não têm a opção de cortar gastos com “necessidades”.
Fonte: Charles Schwab, Piper Sandler & Co. (PSC), em 31/05/2025.
Mesmo com o Índice de Preços ao Produtor (PPI) ainda sob controle, a análise aponta uma tendência de alta desde meados de 2023. Isso é relevante porque muitos dos componentes do PPI — como serviços médicos, gestão de portfólios e hospitalares — são diretamente usados no cálculo do Índice de Preços de Despesas com Consumo Pessoal (PCE), a medida preferida do Federal Reserve.
Em maio, os componentes relacionados ao PPI subiram em média 0,1% mês a mês, o que indica um PCE mensal tranquilo. No entanto, no acumulado dos últimos dois anos, há uma tendência de alta consistente nos dados do PPI que pode pressionar o PCE nos próximos meses.
Fonte: Charles Schwab, Bloomberg, Bureau of Labor Statistics (BLS), em 31/05/2025.
A leitura recente da inflação contribuiu para uma queda acentuada no Citi Inflation Surprise Index, que mede o desvio dos dados em relação às expectativas do mercado. Isso tem ajudado os mercados acionários, que tendem a reagir positivamente quando a inflação vem abaixo do esperado.
Mas a equipe da Charles Schwab alerta: esse índice é cíclico. E com as tensões geopolíticas em alta e os preços do petróleo em ascensão, novas surpresas negativas não estão descartadas.
Fonte: Charles Schwab, Bloomberg, em 31/05/2025.
Outro tema abordado por Sonders e Gordon é a crescente dificuldade dos órgãos públicos em coletar dados de inflação. O BLS admitiu depender cada vez mais de “imputação de célula diferente” — um método menos preciso que estima preços com base em produtos ou regiões similares. Além disso, a coleta foi descontinuada em cidades como Lincoln (NE), Provo (UT) e Buffalo (NY), o que pode aumentar a volatilidade mensal do índice de preços.
As dificuldades não param por aí: as taxas de resposta em pesquisas de emprego, como o payroll e o JOLTS, seguem abaixo dos níveis pré-pandemia, gerando maior incerteza estatística e maior risco de revisões significativas.
Fonte: Charles Schwab, Bloomberg, Bureau of Labor Statistics, JOLTS, em 31/03/2025.
O estudo da Charles Schwab também resgata o Índice da Miséria, criado nos anos 1970 pelo economista Arthur Okun. A métrica combina inflação com desemprego para medir o sofrimento econômico da população.
Hoje, o índice real está abaixo de 7%. Mas o “índice da miséria esperado”, baseado em expectativas de inflação e desemprego, disparou recentemente, revelando a ansiedade dos consumidores, segundo pesquisa da Universidade de Michigan.
Fonte: Charles Schwab, Bloomberg, The Leuthold Group, Universidade de Michigan. Índice da Miséria em 31/05/2025; Índice esperado em 13/06/2025. Previsões aqui são meramente ilustrativas e baseadas em dados públicos históricos.
O primeiro trimestre de 2025 viu um salto nas importações, motivado por empresas e consumidores tentando se antecipar a tarifas mais altas. Abril, por sua vez, trouxe uma reversão esperada nesse movimento — mas também um aumento nas receitas tarifárias, indicando pressão inflacionária à frente.
Com a economia ainda operando próxima ao seu potencial, os riscos de inflação permanecem elevados. O preço do petróleo, sensível aos desdobramentos do conflito no Irã, é um fator adicional. Diante desse cenário, o Federal Reserve deve manter sua postura cautelosa em relação à política de juros — e os investidores, atenção redobrada.
Como bem resumem os estrategistas da Charles Schwab: complacência pode ser perigosa, tanto para os mercados quanto para a política monetária.
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Esta análise foi produzida originalmente por Liz Ann Sonders e Kevin Gordon, em uma pesquisa publicada pela Charles Schwab. A Bankshop LLC não é autora do conteúdo e não se responsabiliza pelas opiniões, projeções ou informações expressas no artigo. Os créditos são inteiramente do analista e da fonte original. Você pode acessar a publicação completa diretamente no site da Charles Schwab Asset Management, clicando aqui.
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