Demanda Fraca em Leilões Globais de Bonds Acende Alerta Fiscal nos Mercados

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  • 16, Jun, 2025

Investidores exigem mais retorno e forçam governos a repensarem emissões de dívidas de longo prazo.


 

O mercado global de bonds está passando por um momento de tensão. Uma série de leilões de títulos soberanos de longo prazo, realizados nas últimas semanas, tem registrado uma demanda abaixo do esperado. Esse movimento está levantando dúvidas sobre até que ponto os investidores estão dispostos a financiar os crescentes planos de gastos dos governos — dos Estados Unidos ao Japão.

A análise foi publicada originalmente pela Bloomberg, assinada pelas jornalistas Alice Gledhill e Ruth Carson, que detalham como o apetite por dívidas de longo prazo vem esfriando em várias economias desenvolvidas.

O mais recente exemplo foi o leilão de títulos de 30 anos do governo japonês, realizado na última quinta-feira, que registrou a pior demanda desde 2023. Esse foi o terceiro leilão consecutivo no Japão com sinais claros de enfraquecimento na procura. E não é um caso isolado. O leilão de títulos australianos de 12 anos, na terça-feira, teve a menor demanda em seis anos, e o leilão sul-coreano de 30 anos, na quarta, também viu a demanda mais fraca desde 2022.

“Os títulos japoneses estão mostrando exatamente o mesmo padrão que estamos vendo em outros lugares. Títulos de longo prazo deixaram de ser os favoritos”, afirmou Martin Whetton, chefe de estratégia de mercados financeiros no Westpac Banking Corp., em entrevista à Bloomberg.

 


Yields Globais Sobem e Refletem Preocupações com Sustentabilidade Fiscal

O reflexo imediato dessa menor demanda é o aumento dos yields (taxas de retorno) dos títulos de longo prazo. Um índice global calculado pela Bloomberg mostra que os yields desses papéis estão no maior nível desde 2008 — um claro indicativo de que os investidores estão exigindo maiores compensações para assumir riscos de longo prazo.

 

Fonte: Bloomberg

 

Nos Estados Unidos, o maior mercado de bonds do mundo, o cenário também é desafiador. A crescente preocupação com o déficit fiscal está levando investidores a exigir prêmios maiores para manterem Treasuries de 10 e 30 anos. A gigante BlackRock, por exemplo, já se posiciona de forma mais cautelosa com esses ativos, principalmente os emitidos pelos EUA. A DoubleLine Capital, por sua vez, avalia duas estratégias: evitar títulos de 30 anos ou até mesmo operar vendido, apostando na desvalorização.

O fundo macro Deem Global, fundado por Asfandyar Nadeem, ex-gestor da Brevan Howard, tem lucrado exatamente com essa tese — mantendo posições vendidas em bonds de longo prazo dos EUA e da Europa, segundo informações da Bloomberg.

“Com os chamados bond vigilantes voltando a rondar os mercados, os investidores vão exigir ou cortes de gastos suficientemente grandes, ou crescimento econômico robusto para controlar os déficits. Isso significa que os yields dos Treasuries de longo prazo devem permanecer elevados no curto prazo”, explicou Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Asset Management, na reportagem da Bloomberg.

 


Ambições Fiscais Globais e Seus Custos

O quadro de preocupação não é exclusivo dos Estados Unidos. O mundo todo está competindo pela atenção — e pelo financiamento — dos investidores. A recém-aprovada “Big Beautiful Bill” americana deve adicionar trilhões de dólares ao déficit dos EUA na próxima década. Na Europa, os gastos com defesa seguem aumentando em função da guerra na Ucrânia, e o Japão também amplia seus compromissos fiscais para mitigar impactos de tarifas internacionais.

Essa combinação de aumento nos gastos e menor apetite por dívida de longo prazo tem levado os yields globais a patamares críticos. Apesar de um breve alívio após o leilão japonês — que levou os yields do bond alemão de 30 anos a caírem para 2,96% e os dos EUA para 4,86% —, o mercado permanece sensível, especialmente após dados mais fracos do mercado de trabalho americano, que reacenderam as esperanças de cortes nos juros pelo Federal Reserve.

 


Governos Já Estão Reavaliando Suas Estratégias

O aumento da aversão dos investidores já começa a gerar mudanças concretas. O Ministério das Finanças do Japão, segundo a Bloomberg, enviou recentemente questionários aos participantes do mercado para entender melhor suas percepções sobre os volumes de emissão. No Reino Unido, o Tesouro cortou o plano de venda de títulos de longo prazo para o menor nível da história.

“A combinação de excesso de gastos fiscais e a perda de apetite por esses títulos exige cautela”, alerta Kevin Thozet, membro do comitê de investimentos da Carmignac, ouvido pela Bloomberg. “Os investidores estão cobrando mais caro para emprestar no longo prazo.”

O alerta é claro: o mundo não pode mais se endividar como fazia na era dos juros zero. O receio de uma repetição do colapso do mercado de bonds britânico em 2022 — quando o governo de Liz Truss anunciou cortes de impostos sem financiamento — volta ao radar dos investidores.

“Se as taxas de longo prazo estão subindo por preocupações reais sobre a sustentabilidade fiscal, principalmente nos EUA, ou veremos o retorno dos bond vigilantes, ou viveremos um novo ‘momento Liz Truss’, com pânico nos mercados”, conclui Luca Paolini, estrategista-chefe da Pictet Asset Management, na reportagem da Bloomberg.

 


Disclaimer

Esta análise foi produzida originalmente por Alice Gledhill e Ruth Carson, em uma matéria publicada pela Bloomberg. A Bankshop LLC não é autora do conteúdo e não se responsabiliza pelas opiniões, projeções ou informações expressas no artigo. Os créditos são inteiramente do analista e da fonte original. Você pode acessar a publicação completa diretamente no site da Bloomberg, clicando aqui.

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Luiza Amaral
Luiza Amaral