Nas últimas semanas, a preocupação dos investidores com o risco de tarifas elevadas sobre as importações dos Estados Unidos diminuiu consideravelmente. No entanto, esse alívio abriu espaço para um novo fator ganhar protagonismo no radar dos mercados: a alta dos juros.
De acordo com uma análise recente do Goldman Sachs Research, uma combinação de fatores vem pressionando os rendimentos dos títulos do Tesouro americano, que voltaram a subir de forma relevante. Entre os principais motivos estão a redução do risco de recessão, as crescentes preocupações com o quadro fiscal dos EUA e o aumento dos custos de financiamento globalmente.
Essa movimentação no mercado de juros tem implicações diretas e indiretas sobre o mercado de ações americano — e entender essas conexões é fundamental para investidores no atual cenário.
O rendimento dos Treasuries de 10 anos subiu cerca de 40 pontos-base em maio, chegando a 4,4%, segundo dados do Goldman Sachs Research. Isso representa uma alta relevante quando comparado aos 3,6% registrados em setembro do ano passado.
“O aumento nos rendimentos foi inicialmente impulsionado pela redução nas tensões comerciais e na percepção de risco de recessão. Nas últimas semanas, o movimento foi reforçado pelo aumento dos juros globais — especialmente no Japão — e pela crescente preocupação com a trajetória fiscal dos EUA”, explica David Kostin, estrategista-chefe de ações dos EUA no Goldman Sachs.
Um dos componentes mais afetados tem sido o term premium, que representa o prêmio exigido pelos investidores para carregar títulos de longo prazo frente aos de curto prazo. Este prêmio alcançou seu nível mais alto desde 2014.
Para o time de estrategistas de juros do Goldman Sachs, o cenário base prevê que os rendimentos permaneçam nos níveis atuais durante 2025, num ambiente de crescimento econômico moderado, sem recessão, e inflação ainda acima da média histórica. A expectativa é que o Federal Reserve só conclua o ciclo de cortes de juros em meados de 2026, levando a taxa básica para a faixa de 3,5% a 3,75%.
O quadro fiscal americano, com uma relação dívida/PIB em torno de 100%, continua no centro das atenções. Caso a política fiscal se mantenha expansionista, os rendimentos podem subir ainda mais — como aconteceu entre agosto e outubro de 2023, quando os Treasuries de 10 anos bateram 5%.
De acordo com a análise do Goldman Sachs Research, o impacto dos juros nas ações não depende simplesmente do nível absoluto dos rendimentos, mas do que está por trás dessa alta.
Quando os juros sobem por conta de expectativas de crescimento econômico robusto, o efeito costuma ser positivo para as ações. Mas quando a alta dos juros decorre de fatores como deterioração fiscal, aumento do term premium ou choques externos, o impacto tende a ser negativo.
“O mercado acionário geralmente se valoriza quando os rendimentos sobem por conta de expectativas de crescimento, mas sofre quando o motivo é preocupação fiscal”, destaca David Kostin.
Uma análise feita pelo Goldman mostra que, historicamente, o efeito do mercado precificando crescimento econômico é três vezes mais relevante do que o impacto do term premium sobre os preços das ações. Esse efeito foi claramente observado em abril e início de maio, quando tanto os rendimentos quanto as bolsas subiram juntos, impulsionados por perspectivas de crescimento.
Muitos investidores enxergam o patamar de 5% nos Treasuries de 10 anos como uma espécie de divisor de águas para as ações. No entanto, o Goldman Sachs não vê essa relação como tão linear.
“Nós não estamos tão convencidos de que os 5% sejam um ponto de inflexão automático para o mercado acionário”, afirma Kostin. Segundo um levantamento histórico feito pela equipe do banco, não há uma correlação clara entre juros elevados e retornos negativos para as ações, especialmente quando a alta dos rendimentos reflete crescimento econômico.
O Goldman Sachs projeta que o S&P 500 pode subir mais de 10% nos próximos 12 meses, alcançando 6.500 pontos, mesmo em um ambiente de juros elevados.
Apesar da visão construtiva, o Goldman alerta que juros mais altos podem, sim, limitar a expansão dos múltiplos de valuation. O modelo macroeconômico da instituição indica que uma elevação de 100 pontos-base nos juros reais dos Treasuries está associada a uma queda de aproximadamente 7% no múltiplo preço/lucro (P/L) projetado do S&P 500.
Hoje, o mercado negocia próximo ao que o Goldman considera seu valor justo, sustentado por fundamentos sólidos — especialmente nas grandes empresas que dominam o índice.
Outra preocupação recai sobre o impacto dos juros nos custos de financiamento das empresas. Por enquanto, esse efeito tem sido limitado. Segundo o Goldman Sachs Research, cerca de 72% da dívida das empresas do S&P 500 está travada em taxas fixas até depois de 2028, o que suaviza o impacto da alta dos juros.
Além disso, setores como o financeiro tendem a se beneficiar de juros mais altos, o que ajuda a compensar parte dos efeitos negativos em outras áreas.
No entanto, o impacto não é igual para todos. As empresas de menor capitalização (small caps) são mais vulneráveis, uma vez que operam com margens mais apertadas e possuem menor flexibilidade para absorver o aumento dos custos financeiros.
A análise do Goldman Sachs Research conclui que, em um cenário de juros elevados e crescimento moderado, os investidores devem priorizar empresas com balanços sólidos, baixa alavancagem e menor sensibilidade a custos de financiamento.
“Esperamos que o crescimento econômico continue, e que o Fed mantenha os juros estáveis, o que deve manter os rendimentos elevados, sustentando a preferência dos investidores por empresas mais robustas e menos expostas à pressão dos juros”, finaliza Kostin.
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Esta análise foi produzida e publicada originalmente pela Goldman Sachs. A Bankshop LLC não é autora do conteúdo e não se responsabiliza pelas opiniões, projeções ou informações expressas no artigo. Os créditos são inteiramente do analista e da fonte original. Você pode acessar a publicação completa diretamente no site da Goldman Sachs, clicando aqui.
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